Em maio de 2008, vinte e uma Confissões cristãs se encontraram – entre católicos, evangélicos e pentecostais – no 1º Encontro de Irmãos Evangélicos e Católicos de Lavrinhas, SP. Na ocasião, houve grande apoio da CRECES (Comunhão Renovada de Evangélicos e Católicos no Espírito Santo), com representantes da Argentina, Chile, Estados Unidos, Inglaterra e Itália. Daquele primeiro encontro brasileiro surgiu um Grupo de Animadores e uma Equipe de Serviço com presença católica e evangélica paritária.
De 26 a 27 de agosto de 2008, a Equipe de Serviço se reuniu em oração e diálogo, para dar continuidade ao Encontro de Lavrinhas, atendendo ao desejo manifesto pelos demais participantes naquela ocasião. Durante a reunião, discernimos que a santidade e a unidade caminhavam juntas, como toques do mesmo passo no nosso seguimento de Jesus Cristo. Assim surgiu a sigla ENCRISTUS – Encontro de Cristãos na Busca de Unidade e Santidade. A própria sigla traduz a visão comum de que todos convergimos em Cristo, quando buscamos a santidade e a unidade sob a guia do Espírito Santo.
O ENCRISTUS favorece o encontro de evangélicos e católicos, que desejam buscar a santidade e a unidade fraternalmente, movidos pela efusão do Espírito Santo que experimentam em suas Comunidades. Este encontro tem um sentido espiritual, discipular, bíblico e apostólico. Não se trata de uma “comissão” interconfessional, nem de uma instância representativa dos dirigentes das Comunidades participantes – embora algumas se fazem representar por presidentes, bispos ou delegados oficiais. Trata-se, sobretudo, de um encontro de irmãos e irmãs que se reconhecem chamados pelo Senhor Jesus Cristo a uma vida de santidade e unidade, conforme o Evangelho.
Cristocêntrico
Os participantes do ENCRISTUS se reconhecem como irmãos e discípulos do mesmo Senhor (cf Jo 13,35). Nossos encontros são marcados pela escuta do Evangelho, valorização do que a graça divina tem feito em cada pessoa, adoração e testemunho comum. Há representantes de Comunidades e Ministérios tradicionais e outros, de Comunidades e Ministérios mais recentes. Há ministros ordenados (pastores, presbíteros e bispos) e há ministros leigos (pregadores, obreiros, adoradores, intercessores). Todos procuram acentuar a fraternidade batismal e discipular, mais do que os títulos e encargos – sem menosprezar a função de cada qual na sua Igreja, edificada pelo ministério pastoral.
A Palavra de Deus nos convida a viver congregados em torno de Jesus, como ramos unidos ao tronco (cf. Jo 15, 16-17; Rm 12). Deus nos quer curados de todo receio e divisão e, em vista de nossa reconciliação como discípulos de Jesus (cf. Jo 17,21-23; 1Cor 3,3-11; 2Cor 5,18; Ef 4,1-6; At 2,42-47). Quando nos perguntam “como” ou “porquê” nos reunimos, respondemos com as palavras bíblicas: “Nisto todos vos reconhecerão que vós sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Nenhuma voz é capaz de cancelar o chamado de Jesus para seus discípulos: “que todos sejam um, para que o mundo creia” (Jo 17,21-23). Entendemos que o ENCRISTUS acontece quando obedecemos a esta palavra bíblica.
Nós concordamos fundamentalmente que o Batismo é um sacramento e ordenança do próprio Jesus, celebrando com água, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28,19). Algumas de nossas Comunidades necessitam reconhecer o Batismo ministrado pelos demais (cf Ef 4,5). Apesar disso, nos dispomos a ver, uns nos outros, os frutos da graça operante. Em comum reconhecemos nossa condição de pecadores e a necessidade da graça justificante que nos capacita às boas obras (Ef 2, 8-10). Reconhecemos, ainda, que nosso discipulado tem sido corrobado pelo derramamento do Espírito Santo sobre católicos e evangélicos, com a efusão de dons e carismas.
O ENCRISTUS é um caminho que trilhamos juntos, no Espírito de Cristo (cf. 1Cor 12,4). Somos cientes dos séculos de distância que nos afastam historicamente. Somente por graça é que podemos acolher o dom da unidade, que cresce junto com nossa busca comum de santidade (cf. Ef 4,4). O mesmo Espírito Santo nos ungiu e nos congregou no único Senhor Jesus, antecipando na oração e na amizade aquela unidade plena que esperamos viver um dia, no nível mais amplo de nossas Igrejas, Comunidades e Ministérios (cf. 1Cor 12,13). Ninguém, por si só, está capacitado para prosseguir no caminho da santidade e da unidade, se não for guiado pelo Paráclito, com vínculo de caridade (cf. 1Cor 13,13).
Como crentes e discípulos, somos herdeiros da fé apostólica manifestada nos inícios da Igreja Cristã: “perseveraram na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2, 42). Esta herança comum nos anima e nos compromete a dar “testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” à semelhança dos apóstolos (cf At 4,33). Queremos orar uns pelos outros, vivendo em amor, para que todos se edifiquem mutuamente sobre o alicerce dos apóstolos e profetas, tendo como pedra angular o Cristo ressuscitado (cf 1Pe 2,4-7). Buscando unidade e santidade, ouvimos a exortação de Pedro: “Sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes” (1Pe 3,8). Como nos ensina Paulo, a nossa reconciliação em Cristo é ao mesmo tempo ministério e apostolado (cf 1Cor 5,17-18).
O ENCRISTUS é eclesial, pois nos reconhecemos membros do Corpo de Cristo, remidos na sua Morte e Ressurreição e vinculados mutuamente pelo Espírito Santo, pelo Batismo e pelo o amor fraterno (cf. Rm 12). Além disso, entendemos que a Igreja de Cristo quer crescer em nossas Comunidades, como ramos daquela Videira que o Senhor plantou pela Palavra, pela Justificação e pela ação renovadora do Espírito Santo – que é Espírito de unidade e paz (cf. Jo 15,5-9; Gl 3,27-28; Ef 4,4). O ENCRISTUS não é “eclesiástico” (sentido institucional), mas “eclesial” (sentido discipular): todos os seus participantes, cada qual a seu modo, estão vinculados a Igrejas e Comunidades organizadas, onde partilham sua fé de modo fraterno, servidor e apostólico, confessando Jesus Cristo conforme as Escrituras.