A Unidade da Igreja

Autor: Dom Julio Endi Akamine

Nesta semana que antecede a solenidade de Pentecostes, a Igreja Católica e outras
Igrejas cristãs celebram a Semana de Oração pela Unidade de Cristãos.
Nessa ocasião, creio que cabe nos perguntar sobre o sentido dessa oração. Por que rezar
pela unidade dos cristãos? A divisão dos cristãos em várias Igrejas é uma situação à
qual devamos nos render e nos conformar? Como discípulos missionários de Cristo,
podemos simplesmente nos contentar com as afirmações: “é assim mesmo”; “cada um
tem o seu caminho, e todos os caminhos levam a Deus”; “Deus é um só, por isso não
importa a Igreja; qualquer uma serve”.
Como você pode notar essas opiniões não dão conta de que a existência de várias Igrejas
cristãs separadas não corresponde à vontade de Cristo. Foi o próprio Cristo que suplicou
ao Pai ao dom da Unidade: “que todos sejam um, como nós somos um”. Por isso, como
discípulos missionários, nós não nos conformamos com a divisão entre os cristãos e a
sofremos como uma verdadeira ferida à unidade que Cristo quis para a sua Igreja.
Os cristãos constatam com tristeza que as divisões na Igreja são consequências do
pecado e não do desígnio de Deus. As comunidades cristãs se separaram, algumas
depois do Concílio de Éfeso (431), outras depois do de Calcedônia (451); o cisma entre
Oriente e Ocidente foi datado convencionalmente de 1054; a Reforma aconteceu no
séc. XVI; outras separações aconteceram também mais tarde.
O que podemos concluir a partir dessa constatação? Que não há mais unidade na Igreja?
Absolutamente não. As divisões atuais ferem do dom da unidade, mas não a destroem.
Uma vez que Cristo pediu a unidade para a sua Igreja, esse dom de Deus não é mais
perdido por pior que sejam as divisões.
De fato, a fé em Cristo e o batismo estabelecem uma união real, mesmo que imperfeita,
entre todos os cristãos (LG 15). Em particular, os Ortodoxos têm em comum com os
Católicos muitos elementos autênticos de fé e de vida sacramental, entre os quais a
Eucaristia e a sucessão apostólica (cf. OE 27-30).
A unidade é um dom definitivo de Deus, mas é, ao mesmo tempo, responsabilidade e
tarefa dos fiéis cristãos. Reconhecemos que a superação das barreiras que dividem os
cristãos não começa do zero. As diversas Igrejas e comunidades eclesiais têm em
comum a fé em Cristo, o batismo, a Palavra escrita de Deus, a vida da graça, a
esperança, a caridade, os dons interiores do Espírito Santo (somente para citar alguns).
“Cristo dá sempre à sua Igreja o dom da unidade, mas a Igreja deve sempre orar e
trabalhar para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para ela”
(CatIgCat 820).
Por essa unidade, ainda que imperfeita, todos nós somos gratos. Também somos gratos
pelo desejo e os esforços de reencontrar a unidade de todos os cristãos, uma vez que
também isso é dom de Cristo e do Espírito Santo.
Caro ouvinte, como nós podemos participar desse movimento dos cristãos de busca da
unidade? Há várias coisas que você pode fazer.
A primeira é a oração: procure rezar pela unidade dos cristãos. Se você tiver a
oportunidade de reunir outros cristãos para orar para essa finalidade, melhor ainda.
Procure participar das celebrações da Semana de Oração pela unidade dos cristãos.
Outra coisa que pode ser feita é a participação de ações solidárias que os cristãos podem
realizar em colaboração.
Uma prática muito recomendável é o diálogo fraterno entre os cristãos com a finalidade
de aprofundar o conhecimento mútuo fraterno. Conhecer as tradições e as riquezas das
outras Igrejas ajuda a superar preconceitos e a apreciar com justiça os dons que o
Espírito Santo comunica.
Por fim, uma ação sempre necessária é a conversão do coração, pois é a infidelidade
dos membros ao dom de Cristo que causa as divisões.
A busca da unidade querida por Cristo para a sua Igreja é um caminho sem volta para
os católicos.

Sua ordenação episcopal foi em 9 de julho de 2011 e seu lema é “Bonum Facientes Infatigabiles” – “Não vos canseis de fazer o Bem”.

Em 28 de dezembro de 2016, Dom Julio foi nomeado arcebispo metropolitano de Sorocaba, sendo o quinto bispo e o terceiro arcebispo, pelo Papa Francisco.