Em breve, ainda que demore

Autor: Luiz Montanini

O que teria passado pela cabeça de Abrão quando, praticamente recém-chegado à terra a ele prometida pelo próprio Eterno, precisou migrar para o Egito, a potência da época, para não morrer de fome no Neguebe?
O que teria passado pela cabeça de Isaque que, vitimado por uma fome tão severa quanto a que seu pai havia passado, precisou mudar-se para a terra dos filisteus e só não subiu nos camelos para refugiar-se no Egito porque foi dissuadido pelo Deus de seu Pai?
O que teria passado pela cabeça de Israel após receber, também em meio a uma fome severa, a convocação de seu filho José para sair de mala e cuia, se gaúcho fosse, e migrar para o Egito?
Canaã não era afinal, a Terra Prometida que manava leite e mel, conforme Moisés ouviria depois do próprio Eterno e repetiria várias vezes, assim como Josué, Jeremias e Ezequiel?
Não era a terra onde Abraão e seus incontáveis descendentes se tornariam em grande e abençoadora nação? O ´quiquitavahavendo´, afinal? Por quê mudar por causa da fome se resolvê-la, para quem tudo pode, era fichinha? Se o propósito era ali, qual razão do desvio de percurso, do atraso de vida?
Foquemos em Jacó por alguns instantes: ele recebe o chamado de quem, a seus olhos, estava morto, seu filho predileto, de que vá para o Egito para ser sustentado ali. Doido de saudade e de ânimo recobrado, arrumou as malas rapidinho e embarcou em uma das carroças. Mas, possivelmente, no trajeto, passou a fazer alguns questionamentos relacionados ao seu chamado e propósito, a ponto de parar em Berseba para adorar e tentar ouvir a Deus, que à noite lhe disse em visão para ir sem medo. E ele foi.
No percurso até Berseba e antes de ouvir a voz do Todo-poderoso, o que teria passado pela cabeça de Israel entre um e outro sacolejo da carroça egípcia? Imaginemos juntos alguns questionamentos que ele pode ter tido:
— Deus, é mesmo sua vontade que eu saia da Terra Prometida e vá para o Egito?
— Não era aqui que as coisas iriam acontecer, conforme o Senhor prometeu e se comprometeu com meu avô Abraão por várias vezes, com meu pai Isaque em Berseba e comigo mesmo, naquele lugar que chamei de Betel e anos depois quando o Senhor me deu um tranco na viagem de volta e me deixou manquitolando?
— Estou saindo daqui, e sei que esta não é uma viagenzinha bate-e-volta, e certamente os inimigos verão a região vazia e vão ocupá-la. Terá sido por nada que tomei aquela terra montanhosa dos amorreus com minha espada e meu arco? E agora volta tudo de graça para eles? 
— Seu propósito é este, aqui em Canaã e, agora o percurso está mudando. O Senhor mudou de ideia? Quiquitáhavendo, afinal?
Se nossos patriarcas tiveram ou não tais pensamentos e questionamentos, não sei. Mas, homens que foram, não duvido que por algum momento não hesitaram, não desanimaram ou não entenderam o que estava rolando da parte do Todo-poderoso. Mas eu e você não somos como eles. Jamais duvidamos, nunca hesitamos, sempre entendemos. Somos espirituais, sabemos para onde estamos indo e temos sempre a presença real e viva de Deus nos direcionando e animando. Jamais desistimos. 
Se você acreditou nessas mentiras que eu escrevi no parágrafo acima, perdoe-me pela inverdade e perdoe-se pela presunção. O fato é que estamos em uma jornada em que muitas vezes não entendemos bem onde ela vai terminar, vivenciamos mudanças de percurso não planejadas ou inesperadas e fazemos perguntas que no momento e às vezes nunca serão respondidas. 
— Devo mesmo continuar insistindo em me reunir com um ou dois para orar pela unidade da igreja quando, ao que parece, ninguém está nem aí?
— Devo mesmo continuar a interceder para que os judeus venham a reconhecer Jesus como o Messias e que o novo homem de Efésios 2.15 surja de fato quando a maior parte da igreja ainda só consegue ver Israel como lugar de turismo?
— Devo continuar a orar para que nossos olhos e ouvidos se abram para ouvirmos mesmo a Deus antes de sairmos profetizando em Seu nome, em vão, à revelia, a partir de nossos pressupostos?
Se você não tem visto nada acontecer ou está estranhando e estarrecido com o que tem acontecido e, como eu, anda se perguntando quiquitahavendo afinal, espero que estes exemplos dos nossos queridos patriarcas judeus nos ajudem e estimulem em momentos de perguntas e inquietações a fim de confiarmos, sem medo algum, de que sim, nosso Pai, que é também sábio arquiteto, sabe o que está fazendo e que, em geral, são nesses momentos em que tudo parece parado, em que nada parece estar acontecendo, que algo novo é gestado e no momento certo vem à luz. Perseveremos. Algo acontecerá em breve, ainda que demore. Ele virá em breve, ainda que demore.

Luiz Montanini é pastor, casado, 3 filhos, um neto,    

Autor dos livros:  “Gestação Silenciosa“,” Volte e Conte”  e  “O Relógio de Deus“, faz parte da equipe do TJCII Brasil e é membro da equipe de serviço do Encristus.